Durante muito tempo, o autismo foi visto como uma condição que afeta principalmente os meninos. Isso se refletiu em pesquisas e criteriosos diagnósticos, que muitas vezes não consideravam as especificidades do transtorno nas meninas. No entanto, estudos mais recentes revelam que o diagnóstico de autismo em meninas pode ser mais tardio, muitas vezes devido a uma combinação de fatores biológicos, comportamentais e sociais que tornam os sinais mais difíceis de serem identificados. Vamos entender melhor por que isso acontece e como isso impacta a vida das meninas.
A “camuflagem” do autismo nas meninas
Pesquisas indicam que as meninas com autismo têm uma habilidade maior de “mascarar” os sinais, ou seja, elas conseguem imitar comportamentos sociais de maneira mais eficaz do que os meninos. Isso faz com que muitas vezes pareçam bem adaptadas socialmente, embora estejam enfrentando dificuldades internas significativas. Esse fenômeno é conhecido como camuflagem, e é um dos principais motivos pelos quais o autismo nas meninas passa despercebido até mais tarde.
Atualmente não existem critérios diagnósticos específicos para as meninas, e muitos dos critérios existentes são baseados em características observadas predominantemente em meninos. Para diagnosticar corretamente o autismo em meninas, é fundamental que os profissionais de saúde considerem as variações de comportamento e as maneiras sutis em que os sintomas podem se manifestar.
Diferenças cerebrais e comportamentais
Pesquisas mais recentes apontam que o cérebro feminino tem diferenças neuroanatômicas que podem influenciar a maneira como o autismo se apresenta. O cérebro das meninas tem uma arquitetura estrutural diferente, com conexões cerebrais mais integradas, o que facilita a cognição social e a comunicação verbal. Isso pode fazer com que as meninas tenham mais facilidade para imitar comportamentos e se integrar a grupos sociais, o que, por sua vez, torna mais difícil para os pais e educadores perceberem que algo não está bem.
Além disso, as meninas possuem um número maior de neurônios-espelho, que são responsáveis pela imitação de comportamentos. Essa característica permite que elas imitem atitudes de outras crianças, como amigas ou irmãs, o que pode mascarar as dificuldades reais de interação social e comunicação.
Sintomas de autismo em meninas
Embora o autismo nas meninas possa se manifestar de forma diferente, existem sinais claros que podem indicar a necessidade de avaliação mais aprofundada. Algumas das características comuns incluem:
- Dificuldade em manter um diálogo estruturado: meninas com autismo podem ter dificuldade em entender quando devem falar ou responder em uma conversa.
- Dificuldade com ironias, piadas ou indiretas: elas podem ter problemas para entender nuances de linguagem ou expressões não literais.
- Brincadeiras mais solitárias: ao invés de interagir com outras crianças, elas podem preferir brincar sozinhas, ou de maneira mais estruturada e repetitiva.
- Hiperfoco em interesses restritos: muitas meninas com autismo apresentam interesses intensos e específicos, e podem ter dificuldade em se desviar desse foco.
- Tendência a evitar eventos sociais: quando elas participam de atividades sociais, é comum que usem scripts ou se apeguem a uma amiga ou irmã para se sentir mais seguras.
- Habilidades linguísticas aparentes: apesar de não apresentarem atraso na fala, as meninas podem demonstrar uma fala excessivamente correta e estruturada, sem compreender totalmente as nuances da comunicação.
Quando o autismo não é identificado precocemente, as meninas podem passar anos tentando se encaixar em padrões sociais que não fazem sentido para elas. Isso pode resultar em baixa autoestima, ansiedade, e até depressão. Além disso, o diagnóstico tardio pode levar a comorbidades como transtorno de personalidade, distúrbios de humor e problemas de saúde mental.
O atraso no diagnóstico também pode significar a falta de acesso a tratamentos adequados e intervenções terapêuticas que poderiam ajudar a menina a desenvolver habilidades sociais, emocionais e comportamentais adequadas.
É fundamental que haja uma revisão nos critérios diagnósticos para o autismo, de modo a considerar as especificidades do transtorno nas meninas. A falta de conhecimento sobre o autismo feminino pode levar os profissionais de saúde a diagnosticarem outras condições, como depressão ou transtorno de personalidade, sem perceber o transtorno subjacente.
Para evitar esse tipo de erro, é importante que os profissionais de saúde estejam atentos às queixas e dificuldades das meninas. Muitas vezes, elas não serão capazes de expressar verbalmente suas dificuldades, então é necessário que o diagnóstico vá além dos testes padrão e envolva uma avaliação mais detalhada, com observação cuidadosa do comportamento e histórico clínico.
Para um diagnóstico adequado, é necessário observar os critérios do DSM-5, que incluem dificuldades em interação e comunicação, além de comportamentos repetitivos e restritivos. Para meninas, a observação de certos padrões comportamentais e a análise de como elas se relacionam com outras pessoas é essencial para um diagnóstico mais preciso.